Eu não sabia
quem era você, mas nos meus sonhos você existia, e eu sabia que a qualquer
momento eu te encontraria. Vivia dias infindáveis, perambulando à própria
sorte, na espera deste grandioso dia. Ah, mas como saber como você era se não o
conhecia?! Meu velho e companheiro coração iria te reconhecer, ele bateria num
ritmo diferente e desejaria intensamente não largá-lo por um minuto sequer.
Ansiando pela
sua presença, mas conformada com os espinhos do caminho, continuei caminhando
rumo ao destino. Me aconcheguei em vários abraços, mergulhei em sorrisos
alargados e exalei perfumes de mistérios, mas meu coração ainda estava quieto,
refreado e me dizia que ainda não. Ainda não era você.
Um belo dia,
eu resolvi arriscar. Estava cheia de ilusões falsas, amores desinteressados e
desilusões verdadeiras. Respondi ao meu companheiro que seria aquele. Ele
resignado calou-se. Comecei a encantar, a seduzir e buscar avidamente por sua
atenção. Simples como um respirar, você se envolveu e começamos um
relacionamento coberto de dúvidas, quereres e ilusões novas.
Deixei-me
levar pelo novo e duvidoso sentimento. Meu coração me ignorava, resmungando
baixo pelos cantos, dizia que não ia dar certo. Eu não faria certo, como tantas
e tantas vezes acontecia. Estava receoso de ser quebrado outra vez porque
trazia marcas profundas de outras vidas passadas. Aquela mesma vida torpe de
uma garota insana de vinte e alguns anos.
Parei para
ouvi-lo algumas vezes, concordei e discordei dele milhões de vezes. Tentei
convence-lo de todas as maneiras a aceitar um novo amor. Jurei que não deixaria
ninguém magoá-lo mais. Lutei com todas as forças, mostrei todas as juras de
amor que recebia de você, as promessas de tentar fazer-nos feliz, de estar ao
meu lado para sempre, promessas de não me deixar mais sucumbir no desespero,
ele estaria conosco, eu dizia. E um dia, esperançoso ele cedeu.
Meu coração se
deixou apoderar daquele novo sentimento. Gostoso, dedicado, afetuoso, fazia bem
para nós. Até as brigas e contratempos nos faziam bem, nos fazia sentir vivos,
lutando pela felicidade tão esperada. Quando você nos magoava, meu coração
vinha em sua defesa e pedia paciência para o novo. E me alegava mais amor, mais
carinhos e abraços apertados para ti. Estávamos a um passo de encontrar aquele
por quem tanto procuramos.
...
Lágrimas... Chorava
por dentro e por fora. Não havia mais chão, nem paredes, só o escuro da minha
culpa e solidão. Quebraste meu coração e ele atordoado, sentia fortes dores e
se contorcia em algum lugar no meu peito, eu o sentia gemer e vibrar a cada
lembrança, boa ou ruim. Eu queria poder tirá-lo de dentro de mim e entregá-lo a
alguém que fosse melhor que eu. Ou ir embora para sempre e deixar de ter a
responsabilidade de cuidar de algo tão precioso. Meu pobre e precioso coração
que sempre esteve comigo, agüentando todas as minhas esperanças de um dia ser
amada, era quem sempre sofria as consequencias.
Nas próximas
noites que viriam eu cuidaria dele, prometeria pela milésima vez nunca mais me
deixar levar pelos sentimentos alheios, juraria pela minha própria vida que ele
não se magoaria mais... Mas naquele momento, eu só conseguia lhe sussurrar uma
coisa: me perdoa!
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