18/07/2009

Sonho de uma noite de verão

Fazia calor. Pela décima vez, perdi a noção de tempo olhando para ele. Que continuava me ignorando. Passei na sua frente, toquei o seu braço e sorri. E ele apenas balançou a cabeça, passivamente, e tornou a virar o copo. Olhou para o outro lado, e eu passei a não mais existir.
Sai chateada. Ele estava chateado. Apesar de não ser dia para chateação.
Há alguns dias atrás... Simplesmente o vi. Já o conhecia, mas passei a conhecer além daquele garotinho que passava em frente a minha casa de bicicleta. Era mais que apenas o menino que havia crescido. Era um mistério.
Bastou apenas um sorriso para ter a certeza que era ele. Verão. Fogo. Calor. Desejo. Paixão. Palavras fortes que não conseguem decifrar a intensidade do que nos aconteceu. Abraço. Loucura. Beijo. Desespero. Distância. Tristeza. E ainda faltava algo. Que antecipo dizendo que ainda não encontrei. Porque era algo além de paixão e menos que um mero amor.
Passávamos o tempo que podíamos juntos. Gostava de vê-lo sério, pensativo, cada vez que falava do nosso futuro. Gostava de vê-lo agonizante quando pensava na distância. Gostava de vê-lo me olhar. E sorrindo a me ver sorrir. E me abraçando forte, por nenhum motivo. Ou por todos eles. E era recíproco.
Havia um algo entre nós que era indefinível e que ele chamava de imã. E eu apenas ria por mais aquela infantilidade. Ele era tão infantil quanto encantador. E me deixava encantar por aquele riso fácil e o olhar penetrante, que me diziam coisas que eu nem sei explicar. Mas que me fazia bem em ouvir.
No calor daquela cidade, nos apaixonamos. E foi no calor que nos desentendemos. Agora, olho pro céu e respiro. Olho pra água e suspiro. Cumprimento um velho conhecido que ri e dou uma risada. E me calo para escutar o meu próprio lamento ecoando na areia.
Caminho em meio às barracas e vi que ele estava vindo ao meu encontro. O coração acelera. Seus olhos me fitam com desejo. Ofegante, toca no meu ombro. Segura a minha mão. Toca os lábios nos meus e digo que não é dia para brigar. Não no último dia. Ele concorda, mas diz que continua chateado. Também estou chateada. E o tempo que nos resta é desperdiçado com brigas sem sentido.
No final, um aperto de mão, um beijo no rosto e um adeus encerram o nosso espetáculo.


Bem Shakespeariano.
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