23/10/2009

Fases de cadeias

Presa em cadeias de vidro. Redoma de vidro brilhante e frágil. Doce espera de um amor. E ela logo se quebrou. Foi despedaçada com os pedaços do meu coração. Catei e tentei reconstruir. Mas minha redoma se tornou informe e absurdamente vazia.
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Presa em cadeias de diamante. Transparentes e inquebráveis, porém perfeitas. Acordo desesperada e já não sei respirar. Um pesadelo assombra minhas noites inocentes e a lua, imperdoável dama de prata, me sufoca com seu brilho. Sufoco, não consigo sair. Quero partir essas cadeias e quero partir pra longe. Quero poder ficar.
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Presa em uma cadeia vazia. Vazia de nada. Cheia de multidões. Sobressaltadas noites em desalento tentando achar um local seguro. Um local menos vazio, um local menos cheio. Minha mãe.
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Presa em cadeias de ferro, duras, incapazes de manejar. Sólido insípido. Doce como o ferrugem de suas marcas que se desgastaram em lágrimas.
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Presa em muralhas de solidão, me despeço do sol que ainda não foi embora. E o frio invade os meus calafrios e grito de horror. Por dentro, calada. Ouço seus passos no corredor úmido e espero. espero. e nada.

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08/10/2009

Despedida

Seus dedos estavam cruzados numa espécie de carma. Um hábito que lhe era comum sempre que ficava ansioso. Entrava em transe, e apertava a fronte contra o joelho como se isso aplacasse a dor que teimava em existir.

- Oi... – falei e já não sabia o que dizer.

Sua cabeça permaneceu abaixada, mas pude perceber que seus olhos se fechavam com mais força, pois suas têmporas enrijeceram. Suspirei. Sua cabeça continuou abaixada, mas agora suas têmporas estavam relaxando e ele olhava os meus tênis fixamente. Um alvo vazio.

- Oi. E também suspirou.

Agachei ao seu lado e me deixei levar pelo perfume que lhe era tão comum. Cheirava ao meu próprio prazer. Sorri com este pensamento e isto fez com que seus olhos se levantassem. Por um minuto apenas nos olhamos e o meu riso foi morrendo aos poucos, dando lugar a tristeza inevitável. Íamos nos separar em menos de uma hora. E nada poderíamos fazer contra.
Ele segurou forte na minha mão e nos levantamos. Nossos corações queriam se sentir. Em um ritmo doce e louco, um abraço foi o que restou, e ficamos ali apenas ouvindo. Queria poder dizer que ele se tornara a razão da minha alegria. Que de manhã era dele o meu primeiro pensamento e, ao cair à noite tudo o que eu queria era poder dormir para sonhar com ele. Mas continuei calada, enquanto o meu coração gritava.

- Adeus!

- Adeus... – ...


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