12/01/2009

Cotovia

Na profundidade de nosso ser mora uma pequena cotovia que canta plenamente. Escute. Ouça-a cantar.
Seu canto lamenta o pôr-do-sol. Seu canto canta o amanhecer. Essa é a canção da cotovia. E ela não se calará até ver o sol.
Ela é tão pequena, que ignoramos a sua presença. Não é como os outros. Alimentamos o leão que rosna por poder. Acariciamos o tigre que exige afeto. Domamos o potro que resiste ao controle. Os outros são mais barulhentos, mais exigentes, mais imponentes.
Mas nenhum é tão constante como a pequena cotovia.
Do cinza canta uma melodia dourada.
Trina um verso que o tempo não limita e assomando-se pela mortalha da dor, vislumbra um lugar onde a dor não existe.
A cotovia anela a eternidade.

O sábio disse:
Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a idéia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim.
Mas não é preciso um sábio pra saber que os anseios das pessoas vão além da terra. Quando vemos dor, anelamos. Quando vemos fome, nos perguntamos o porquê. Mortes sem sentido. Lágrimas intermináveis, perdas desnecessárias. De onde vêm? Para onde conduzirão?
E assim canta a cotovia.


Somos essa ave e sua canção nos pertence. Nossa canção do coração não será silenciada até que vejamos o amanhecer.

§

3 comentários:

Hernany disse...

eu num sei falar poesias , nem textos bonitos ! Mas adorei esse da Cotovia ! Putz é vc tem o don com as palavra :D

bjos e abraços

Millena Mesquita disse...

...
Eu agradeço a invasão... amei seus textos...

Estava Perdida no Mar disse...

Sim, eu quero ser uma cotovia. E enfeitar o girassol.

Beijos
Texto lindo